domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma das piores pobrezas é a solidão, diz Padre Marcelo Rossi em "Ágape"

Em "Ágape", padre Marcelo Rossi usa uma linguagem simples, acessível, cheia de ternura, para diagnosticar as principais doenças do espírito do nosso tempo. E a cura para todas as dores está no ágape (amor divino, incondicional, que não exige retribuição, que gera bondade, puro, livre).
A obra se inspira em trechos do Evangelho de São João, apresentados no começo dos capítulos. "João era chamado de o discípulo amado. (...) Cada momento de Jesus é descrito como uma delicadeza textual impressionante. Os sinais, os símbolos preenchem os escritos. Jesus é o Bom Pastor. Jesus é a luz do mundo. Jesus é a revelação do amor", escreve Rossi na introdução.
Também são citados exemplos como o de madre Teresa de Calcutá, que peregrinava pelo mundo todo, distribuindo amor a cada uma das pessoas necessitadas que encontrasse. Padre Marcelo também alerta sobre as mazelas da humanidade, como a falsidade, a mentira, o abuso de poder e a solidão.
Leia um trecho de "Ágape"
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Uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão. Vistas bem as coisas, as outras pobrezas, incluindo a material, também nascem do isolamento, de não ser amado ou da dificuldade de amar. As pobrezas frequentemente nasceram da recusa do amor de Deus, de uma originária e trágica reclusão do homem em si próprio, que pensa que se basta a si mesmo ou então que é só um fato insignificante e passageiro, um "estrangeiro" num universo formado por acaso. O homem aliena-se quando fica sozinho ou se afasta da realidade, quando renuncia a pensar e a crer num Fundamento. A humanidade inteira aliena-se quando se entrega a projetos unicamente humanos, a ideologias e a falsas utopias. A humanidade aparece, hoje, muito mais interativa do que no passado: esta maior proximidade deve transformar-se em verdadeira comunhão. O desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento que são uma só família, a qual colabora em verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a viver uns ao lado dos outros.
O papa nos traz a pobreza como resultado da solidão ou, em outras palavras, do individualismo, do isolamento. Fala de um mundo que se uniu por tantos fenômenos, mas que ainda está separando na fraternidade. A reflexão profética está no conceito de que o desenvolvimento real dos povos depende dessa fraternidade. Ele diz do reconhecimento de que são todos membros de uma só família.
A multiplicação dos pães nos traz a realidade do acolhimento. Todas aquelas mulheres, aqueles homem e crianças faziam parte da família de Jesus e é por isso que ele não poderia mandá-los embora. Ele queria que eles ficassem confortáveis na relva, que se sentissem membros de sua grande família, que fossem alimentados, que fossem tratados com dignidade. É esse o exemplo que fica para a nossa ação no mundo contemporâneo. Nada de ideologias que excluem a vida ou que defendem falsas utopias. O homem não pode ser coisificado, não pode ser um meio para a construção de um Estado insensível, mesquinho. O homem é imagem e semelhança de Deus. E toda a ação política, cultural, social deve levar em conta o projeto primeiro para o qual fomos criados, para amar e para sermos felizes.
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"Ágape"
Autor: Padre Marcelo Rossi

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